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Philadelphia, JULY 2013.
PARTE V
VINTE ANOS ATRÁS (Continuação)
Sim, Cachoeira é um Quilombo e plantou raízes do outro lado do Paraguaçu. Quem conhece Nagé de Maragogipe não me deixa mentir; La na montanha mais alta está à Casa Branca morada dos JEJES. É La estão os VODUNS, cultuados há séculos pelos seus descendentes. Aliás, eu também tenho raízes ali! Minha tia Roxinha, Yalorixá da casa, faleceu em 1989 (Deus lhe dê o Reino da Gloria) sendo substituída por sua filha Maria. Minha tia Roxinha gostava de mim como todas as tias gostam dos seus sobrinhos, mas não confiava em mim, quando as coisas tinham aque ver com preceitos da casa. Mesmo sendo eu do mesmo sangue, e filho da Irmã dela.
Um dia eu estava tomando café, feito num enorme fogão de lenha e minha mãe apontou para o cágado que tentava escapar de uma barreira de pedras ali mesmo na cozinha onde eu, e convidados: Yaôs e Ogans tomavamos o café da manhã, depois da maravilhosa festa do “Velho”.(Oxalá), mas os da casa só o chamam de “O Velho”. A minha mãe apontou para o cágado e me disse: ”Meu filho, esse cágado é da sua idade. Esse réptil foi doado a sua tia no primeiro dia que você veio aqui na roça e você tinha 1 mês de nascido”, eu respondi a minha mãe; Eu tenho 30 anos de idade.
Para então, eu já tinha feito aproximadamente uma centena de visitas ao templo, mas para minha tia e meus primos, eu era um visitante e acabou a estória, por mais que eu tentasse falar a linguagem deles. Mais porque tem que ser assim, se eu sou da mesma raiz? Já até tive a absurda ideia de fazer como fizeram Caribé, Gisela Grosard e Roger Bastide; navegar milhas de oceanos adentro, até encontrar um lugar, que me tratem como os trataram e tratam no Brasil. Que ideia absurda essa minha, se não tenho pinta de colonizador, e nem tenho coração de colonizador por isso jamais eu seria um colonizador. SOU NEGRO E HUMANO.
Após o café sair para da uma volta pela roça e, sem má intenção levei minha câmera fotográfica comigo como costumo fazer aonde quer que eu vá. Andei pelos estreitos caminhos tortuosos, olhando nas margens os uricoriseiros, dendezeiros, cajueiros. Passei pela fonte de água rasa e barrenta, onde as mulheres enchiam suas panelas com cuias, cuidadosamente para não misturar a água com barro.
Passei pelas mulheres e seguir em frentes, olhando ambos os lados do estreito caminho: Quero ver os assentamentos! Seguir o caminho de caracol. Parece que estou vendo um: Sim! é! AZOANE! Interessante esse chapéu amarelo de palha da costa. Ele é o medico!
Com a câmera em punho pensei uma só vez: "Eu jurei fidelidade aos “Deuses Africanos”. Sou de Ogun, portanto, o Deus AZOANE ficará na minha mente para sempre e não em fotografia. Caminhei um pouco mais e parei debaixo da gigantesca árvore de IROKO. Ah! Sentir firmeza que energia forte! Minha tia não falava muito dos mistérios da casa branca, tão pouco sobre os Voduns. Quando eu queria tirar alguma dúvida, eu ouvia dela o seguinte: “Meu sobrinho; sua tia não sabe como é mesmo isso aqui. Eu faço o que eles me mandam fazer”.
O meu raciocínio foi interrompido por um vulto vindo de dentro do mato. Uhm! É um dos meus primos: La vai ele seguindo seu caminho fingindo que não está me vendo. Mas é claro que ele estava me espionando. Me da raiva! Ele estava bem pertinho com certeza atrás de alguma dessas moitas me olhando, pronto para me da um flagrante. Sempre assim: quando não é um, é outro. Meus primos nunca foram bons detetives, pois, eu conhecia todas as suas táticas de inteligência. Para um respeitador dos preceitos como eu, e cultor das minhas raízes, é constrangedor saber que não confiam em mim.
A casa Branca do Pinho em Nagé é um dos poucos Candomblés de Jejes Dahomey que existem na Bahia e no Brasil, assim como os Voduns que habitam ali. Eles são fortes e inteligentes e seguem incólumes nas suas raízes e princípios. As famílias que há mais de três séculos habitam nas terras que circundam o Pinho vivem nela em completa harmonia.
Tudo que eu saber e sobre nos mesmo e nos fortalecer através da verdade da nossa historia. Essa e a conclusão que cheguei": Os Jejes Dahomey chegaram até o Pinho desde as margens do São Francisco do Paraguaçu, e nós de Cachoeira de onde viemos? Somos descendentes desses Jejes é claro. Eu tenho dito: “A CIDADE DE CACHOEIRA E UM QUILOMBO”! Que seja no seu perímetro urbano, nas Ladeiras da Cadeia, Manoel Vitorio, Cucuís de Brito, Caboclo, de Roque ou Quebra Bunda. A CIDADE DE CACHOEIRA E NEGRA!
Contemplemos o que ficou estabelecido na convenção da ABA Associação Brasileira de Antropologia, de que quilombos não são grupos isolados ou uma população homogenia, em sua composição racial. No caso da cidade de Cachoeira, que é predominantemente negra, com uma cultura arraigada fundamentada nas raízes africanas e por ter resistido na sua pratica cotidiana desde a sua fundação, e que sempre lutou e luta pela manutenção e reprodução de seu modo de vida característico. O conceito acerca da definição de quilombo permitiu a construção de um rol de políticas publicas voltada exclusivamente para as necessidades territoriais, sociais, econômicas e culturais das comunidades Quilombolas, estejam elas nos centros urbanos ou nos meios rurais
¬1- Comecemos pelo perímetro urbano: Porque uma só família é dona de tantas propriedades e muitos desses imóveis permanecem inabitados durante décadas e acabam em ruínas? Como esses ITALIANESCOS, ARABESCOS e GERMANESCOS adquiriram esses secular imóveis, e quais foram os critérios de posses? Essa gente tem uma historia de segregacionismos embora fossem pobres imigrantes: Mascates, Provedores de Santas Casas, “que cuidavam do latifúndio da Santa Igreja Católica”. Afinal, (Quantas propriedades urbanas possuía “a Santa instituição”, e quantas lhe resta hoje?) Os pseudos donos atuais detém escrituras desses imóveis?
2- Não olvidemos da imigração fumageira, "alias exploradores que apossaram de vastas terras da região e se desfizeram quando quiseram, sem oferecer nenhum beneficio agrário para a população."
Em conversa com alguns conterrâneos, eles me diziam que, está surgindo um novo racismo na comunidade. Eu assumo que com o crescimento desordenado da cidade, surgem modismos, em detrimento da cultura e valores morais existentes da população. Cachoeira já entrou em processo NEO COLONIALISTA, cuja causa principal é o controle econômico que exercem os políticos (esses tem sido os maiores infratores da lei) através do voto do “cidadão” Quantos membros existem em uma família e quanto o candidato paga por cabeça. Tal oferta vem de qualquer partido político de direita ou esquerda: (de partidos capitalista socialista ou comunista)
Nesse caso a comunidade não conta com lideranças ou partidos políticos que a represente e sim assistencialistas. A esquerda de hoje não pensa como aquela esquerda que nos anos 80 eu lutei lado a lado, por um país mais justo.
Onde estão as ONGs locais e que tipo de lideres as dirige? Estas instituições poderiam desempenhar um papel muito importante junto ao eleitorado cachoeirano: Nem a Universidade Federal do Recôncavo-UFRB parece preocupada com esses maus que atingem a sociedade cachoeirana e nem tampouco em relação ao rápido crescimento demográfico, da violência e do encarecimento das coisas que são mais elementares, que recai contra a população.
“UMA UNIVERSIDADE QUE NÃO DEDICA AO MENOS 10% DOS SEUS ESTUDOS EM BENEFICIO CIDADANIA LOCAL E UMA UNIVERSIDADE 10% menos. Observem que, já está surgindo favelas COM linhas vermelhas “(pontos de tráficos de drogas ilegais) na cidade”. Fatos desproporcionais para uma cidade pequena com menos de 40 mil habitantes.
Se sentarmos à mesa para debater sobre as drogas ilegais, chegaremos à conclusão de que estamos vivendo um flagelo e convivendo com esse mal como se fosse normal o que se significa perda de valores e que o mundo to esta assim. A tomou tomou proporções praticamente incontroláveis, o que evidencia pelas suas táticas, um plano infiltração do crime organizado no poder constitucional. Desde os anos 2003, quando o México e os Estados Unidos declararam guerra ao narcotráfico, o governo federal não fez absolutamente nada para proteger nossas fronteiras, e sim permitiu o ingresso das FARCS nosso pais. Agora parece ser tarde demais, porque 30% da nova geração são viciadas em CRACK, o que equivale a um custo milionário para tirá-los desse mundo.
OS BRUZUNDANGAS.
Se Lima Barreto não tivesse tido o triste fim, hoje ele estaria reescrevendo “OS BRUZUNDANGAS.” ou se Giocondo e Dias Carlos Lacerda, Carlos Marighela, Carlos Lamarca e outros mártires que deixaram seus legados estivessem vivos eles renegaria esses comunistas de hoje, ao vê-los submergidos na CORRUPÇÃO brasileira; sendo comprados e comprando votos de eleitores. O pior ainda é fazendo alianças com os carrascos do próprio povo.
Eu não gosto de dizer que sou patriota. Sinto-me mais fiel ao Brasil, dizendo que “a minha pátria é Cachoeira” onde nasci, e que pertenço à comunidade negra do planeta. Nosso país está infestado de traidores, que dizem ser patriotas. Lembram do Collor de Mello que beijava a bandeira do Brasil, sempre quando estava diante da multidão? Como ele existem muitos que entraram e estão entrando na política, para se apropriar do que não lhes pertence, em detrimento de milhões de brasileiros.
O povo negro soma 150 milhões nas Américas Latina e Caribe, o que equivale a 30% da população dessas regiões, enquanto nos cachoeiranos somos 99%.
Já sabemos que não temos lideranças políticas e sim donos do poder por esse Brasil afora e Cachoeira está nesse “Rol”. Volto a agradecer a ”Mario da Embasa” que me apresentou aquele grupo de garotos e garotas liderado por BADINHO que, no final dos anos 80 revolucionaram Cachoeira. Eles levaram a comunidade negra a ter orgulho de ser negro. Hoje, beirando seus 35 a 38 anos e ainda com “o sangue na guerra”. Rapazes inteligentes! Esqueçam as promessas desses políticos; eles só têm discursos, eles não têm planos nem projetos para as necessidades almejadas pelo nosso povo. Levantemos nossas armas, as armas que empunhamos nos anos 80 e dessa vez com mais eficácia, antes que eles saqueiem o resto do da cidade.
Cuidado! A historia tende a repetir: Nossa cidade que outrora foi saqueada pelos ITALIOTAS, ARABESCOS e ALEMANESCOS, e provedores de santas casas, hoje está sendo apossada por um só grupo, por sinal esse grupo já foi pobre. Esse grupo é uma família, membros que já foram nossos amigos de infância.
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